(Especial) “As Horas Vermelhas”, de Leni Zumas - Colaboração de Kalany Ballardin (@kalyoutloud)
Para comemorar que estamos batendo a marca de mil assinantes, pedi para que algumas pessoas queridas - leitoras e leitores vorazes que admiro - escrevessem sobre livros que marcaram suas vidas
Ler ou escutar a Kalany Ballardin falando de livros é um dos motivos pelos quais eu pago a Internet. Num universo online onde as resenhas tendem ser a muito parecidas e sempre sobre os mesmos livros, a designer gaúcha traz dicas de leituras diferentes de tudo que vemos por aí.
Com a bagagem de capista - sim você já pode ter topado com algum projeto gráfico da Kaly por aí -, ela traz muito dos bastidores da produção dos livros para seu projeto Kaly Out Loud (@kalyoutloud), além de ficar antenada em tudo que acontece no mercado editorial, especialmente lá fora.
Outra faceta da Kaly que reflete em sua curadoria é a paixão pelos poetas beats e a cidade de São Francisco, nos EUA, onde ela morou num intercâmbio durante sua graduação.
Acompanhar a Kaly é saber que sempre vai encontrar em seu perfil: ótimo design, boas dicas de leituras e um sorriso de iluminar a tela do celular.
“As horas vermelhas” foi um dos livros que eu esperei ansiosamente que fosse publicado aqui no país. Acompanhando as notícias de língua inglesa, o livro da Leni Zumas pipocava em muitas listas lá em 2018. Como eu sou designer, ele também figurou na minha lista de “livros-que-espero-que-tenham-capas-legais–podiam-até-manter-a-original”.
O livro saiu aqui pela Planeta, mas foi sem estardalhaço. Me pus a ler quando comprei meu exemplar. A narrativa segue quatro mulheres, todas sem nome, e os capítulos são alternados entre elas: a biógrafa, a filha, a esposa e a reparadora. Conforme cada pedaço de história avança, a leitora consegue enxergar a teia invisível que une essas mulheres (e a própria leitora) e suas histórias.
Todas elas abordam a questão da maternidade, o “ter filhos” e, em determinado momento, isso se torna o ponto central das histórias e influencia fortemente tudo que acontecerá com cada personagem dali pra frente – ou já influenciou, em seu passado que agora precisa ser encarado e revisto.
O pano de fundo adiciona complexidade e uma série de sentimentos. A história de todas se passa em um Estados Unidos “distópico”, onde o aborto é totalmente ilegal (na época do lançamento do livro, a lei que garantia o aborto nos EUA ainda não havia sido revogada e isso parecia somente um sonho ruim).
Eu penso demais nessa narrativa até hoje. Primeiro porque fiquei com a forte impressão de que essas mulheres não importam. Apesar de, ao ler, conseguirmos entender quem é quem numa triangulação de fatos e informações, o fato de cada narradora não ter nome é muito perturbador. Eu queria ouvir cada uma delas, de novo e de novo.
Ouvir cada mulher na sua jornada de vida e pegando na mão dela quando ela me conta sobre as decisões que precisou fazer pra ser o que queria, ter a vida que queria.
É complexo falar desse livro sem spoilers, mas posso garantir que a leitura é daquelas “que se pagam”. Cada personagem nada mais é do que um estereótipo de mulher: uma é a bruxa louca, a outra, “a santinha” – e por aí vai. É uma grande crítica às estruturas patriarcais e machistas que enfrentamos diariamente. Mas é também um exercício de olhar para caminhos que poderiam ser o seu... Poderia ser eu tendo que tomar tal decisão, querendo fazer aquela coisa... São narrativas fragmentadas mas que se complementam muito bem. São sensíveis e emotivas, ao mesmo tempo que te deixam agoniada para saber como tudo vai se desenrolar. Recomendo demais, demais, demais.
Adorei! Não conhecia o livro.
Conheci o perfil da Kalany por você e adorei! 🥰