"Garota, Mulher, Outras", de Bernardine Evaristo
“A vida é uma aventura para se acolher com mente aberta e coração amoroso”
"Garota, Mulher, Outras", da escritora anglo-nigeriana Barnardine Evaristo, não é apenas um livro, mas vários dentro de uma capa única - que te fisga já nas primeiras páginas.
Explico: a obra narra as histórias de diferentes mulheres, todas negras, muitas delas lésbicas e imigrantes, navegando uma sociedade britânica permeada de preconceitos, especialmente em tempos de Brexit.
Apesar de trazer muitas protagonistas, em momento nenhum o livro fica confuso ou se perde, isso porque cada uma delas é descrita detalhadamente, numa narrativa que apesar de geralmente se centrar num curto período de tempo, conta com começo, meio e fim.
Como o capítulo que fala de uma gerente de supermercado de bairro que antes de abrir a loja para mais um dia de vendas reflete sobre seu passado e todas as decisões que a levaram até ali.
A escrita de Bernardine é tão envolvente que o leitor se sente próximo da personagem, tomamos suas dores e chegamos até mesmo a lamentar o fim de sua história. Isso até ser conquistado por outra personagem nas próximas páginas.
Outro aspecto instigante da leitura é que todas as narrativas se entrelaçam em determinados momentos, apesar de os personagens não necessariamente se conhecerem entre si.
E todas tratam das dificuldades de ser mulher, de ser negra, em alguns casos também falam da pobreza, de preconceitos ligados a sexualidade e do processo de adaptação a uma nova cultura.
Evaristo explicou em entrevista que "esse é um romance que um homem branco não poderia ter escrito porque é a experiência que todas nós, mulheres negras, vivenciamos".
Outro ponto que chama a atenção no livro é a pontuação, ou melhor, a falta dela. Escrito em formato de prosa poética, não confunde o leitor, como temia, mas dá a cadência para o texto tantas vezes levado por sotaques dos imigrantes vindos de lugares como Caribe e África.
Não foi por acaso que a obra ganhou, além do aclamado prêmio Booker Prize em 2019, elogios fervorosos de pessoas como Barack Obama e Roxane Gay.
Estou com ele comprado no Kindle me esperando. Acho que vou usar dezembro para isso!
Esse livro é uma coisa mesmo! Sou apaixonada!