"Queenie", de Candice Carty-Williams
Um pouco de Bridget Jones, um pouco de "Luxúria", de Raven Leilani, nesse ótimo livro de estreia que recebeu muito menos atenção do que deveria no Brasil
Tem alguns livros muito bons que estouram lá fora e passam quase desapercebidos por aqui, algo que nunca vou entender. Seria um problema de marketing, uma mudança brusca na arte da capa ou algum fator que não se traduz bem para o português? “Queenie“, de Candice Carty-Williams, é mais um exemplo disso.
O livro, elogiado por nomes como Jojo Moyes e Bernardine Evaristo, foi aclamado pela crítica norte-americana e britânica e chegou inclusive a ganhar o British Book Awards como livro do ano de 2020, sendo sucesso de vendas no Hemisfério Norte.
Diante de tantas resenhas positivas, eu tinha altas expectativas para essa leitura. Mas algo engraçado aconteceu; o livro superou tudo que eu esperava ao me levar a um lugar completamente diferente do que a sinopse prometia.
Explico; a obra é vendida quase como uma versão atualizada das aventuras de Bridget Jones, e por um curto período até parece mesmo ser, ao acompanhar uma jovem recém solteira navegando o estranho mundo dos apps de encontros.
Mas logo percebemos que de comédia romântica a história não tem nada. O estilo é apenas um disfarce para debater temas relacionados ao racismo, especialmente no âmbito amoroso, lembrando muito “Luxúria“, da Raven Leilani, assim como traumas de infância e saúde mental.
Queenie, a personagem que dá nome ao livro, é uma jornalista de 25 anos que acaba de terminar o relacionamento com um namorado de longa data. Conforme ela começa a se relacionar com outras pessoas, uma série de traumas do passado começam a vir à tona e é nesse momento que o livro muda quase completamente de direção.
Apesar de por vezes ser um pouco irritante, é impossível não se apaixonar pela protagonista, assim como por seu grupo de amigas e sua família, formada por imigrantes jamaicanos.
A escrita de Carty-Williams é inteligente e o fluxo do texto é rápido, sem nunca se tornar cansativo. Um grande livro de estreia, que nos deixa curiosos para acompanhar seus próximos lançamentos.