"Ao Paraíso", de Hanya Yanagihara
"Eles precisaram abandonar na casa de sua infância todos os objetos que fossem feitos de tecido ou de papel, qualquer coisa que pudesse servir de esconderijo para uma pulga"
Antes de mais nada é preciso dizer desde o começo que fui injusta com “Ao Paraíso“, de Hanya Yanagihara. Apesar de tentar em vão me conter, cheguei até ele cheia de expectativas. Explico, seu antecessor, “Uma Vida Pequena“, foi uma das leituras que mais me marcou em toda minha vida de leitora.
A própria Hanya já havia avisado que são livros completamente diferentes. Mas eu não acreditei e busquei nas páginas de “Ao Paraíso“ os mesmos sentimentos que haviam me abduzido durante a leitura do livro anterior da autora.
Então já fica o aviso, querido colega leitor, se você procura uma sequência de “Uma Vida Pequena“, essa obra não é para você. É preciso entrar em “Ao Paraíso“ de peito aberto para entender o livro em toda sua potência. Algo que, repito, não aconteceu comigo.
Mas isso não quer dizer que não se trata de um bom, ou até mesmo ótimo, livro. Algumas pessoas até mesmo o compararam a “Guerra e Paz“ e o chamaram de “o grande romance norte-americano“. Mas aí já vejo um pouco de exagero.
Em três histórias paralelas - apesar de os nomes se repetirem como se fosse “Cem Anos de Solidão“ -, acompanhamos trechos da vida de pessoas que se sentem sozinhas, angustiadas com sua realidade, em busca de uma forma de fuga.
Os únicos traços em comum são a casa onde se passam essas histórias, todas elas são narrados de uma mansão na Washington Square, em Nova York, e o fato de que os protagonistas se veem diante de uma decisão que pode os levar para fora dessa vida, um caminho em direção “ao paraíso“, como o próprio nome destaca.
(A autora diz que as histórias não têm relação entre si, mas com algum esforço é possível ler como se fossem diferentes gerações de uma mesma família).
Hanya solta mais a imaginação nesse livro, narrando, por exemplo, um Estados Unidos fictício, que não permaneceu unido após a guerra civil e que, situado no ano de 1893, permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A segunda parte do livro se passa cem anos mais tarde, em 1993, entre uma Nova York assolada pelo vírus da Aids e o Havaí - região de origem de vários dos personagens.
A terceira e última parte do livro, por sua vez, acontece em 2093. Na mais longa de todas as histórias - e também minha favorita -, diversas pandemias que assolaram a humanidade resultaram numa sociedade distópica onde os sobreviventes têm seus direitos cerceados nos moldes de “1984”, de George Orwell.
Falar mais sobre qualquer uma dessas histórias é estragar surpresas, pois as narrativas vão se revelando muito lentamente, prendendo mais e mais o leitor conforme as páginas vão se passando.
Outras questões abordadas por Hanya, assim como em outros de seus trabalhos, são o racismo, colonialismo e a própria concepção de nação. Todo o sofrimento de “Uma Vida Pequena“, no entanto, é relegado para pequenos trechos e em escala muito menor.
“Ao Paraíso“ não foi um livro que me encantou, mesmo por conta de toda a expectativa que eu tinha dele, mas foi uma leitura que não conseguia largar.
O livro mostra uma Hanya mais madura, algo que reflete em sua escrita, mas senti falta de um pouco de emoção. Enquanto seu livro anterior pecava pelo excesso, parece que faltou algo em “Ao Paraíso“.
vou tentar ler já no começo do próximo ano \o/
Esse livro me impactou bastante... não parei de falar e escrever sobre ele, mas ainda não li "Uma vida pequena". Até me perguntei como esse livro me passou batido, mas descobri que ele está há mais de um ano na minha lista de desejos na amazon... hehehehehe... mas agora vou respirar antes de embarcar no primeiro.