"Belo Mundo, Onde Você Está", de Sally Rooney
“Quero viver de outro jeito ou se necessário morrer para que outras pessoas possam viver de outro jeito um dia. Mas olhando na Internet, não vejo muitos ideais pelos quais vale a pena morrer"
Numa breve passagem em um dos primeiros e-mail trocados entre as protagonistas Eileen e Alice, melhores amigas e ex-colegas de faculdade, a escritora irlandesa Sally Rooney relata a história de uma civilização antiga muito à frente de seu tempo, cuja misteriosa extinção nunca foi solucionada pelos estudiosos modernos.
A pequena anedota dá o tom de grande parte de "Belo Mundo, Onde Você Está", no qual as personagens se veem de novo e de novo se questionando sobre os efeitos do capitalismo e o que acreditam ser sinais claros da provável derrocada da civilização moderna. E como continuar vivendo nesse cenário sem entrar em desespero.
Para falar sobre "Belo Mundo" preciso destacar desde o começo que esse é o meu trabalho favorito de Rooney até o momento e que resgata bastante dos diálogos irônicos e sagazes de seu primeiro livro, "Conversas entre Amigos", que se perderam um pouco na sequência em "Pessoas Normais".
Todos os elementos que tornaram a escritora famosa continuam lá; a vida universitária, Dublin, as dores e felicidades da geração millenial, mas dessa vez são assuntos abordados com mais maturidade. Na verdade, os próprios personagens agora são mais velhos.
Se você leu as demais publicações de Rooney, será fácil reconhecê-los, eles estão, ainda que de formas um tanto distintas, perdidos em situações de solidão, insegurança e autossabotagem.
Uma surpresa positiva foi que desta vez os protagonistas são bem mais carismáticos - em seus outros livros tive uma relação de amor e ódio com as criações dela.
Se nas primeiras obras de Rooney seus personagens tentavam entender quem eles eram, em "Belo Mundo" Eileen e Alice, mais velhas como dito anteriormente, sabem quem são, mas se sentem desiludidas com a realidade ao seu redor e sofrem com a nostalgia pelos anos em que julgavam o mundo um lugar mais belo e cheio de possibilidades.
Enquanto trocam e-mails, ambas começam relacionamentos amorosos que as obrigam a lidar com desagradáveis questões sobre si mesmas.
Pausa para observar que a personagem de Alice, uma escritora, me parece ser baseada na própria Sally Rooney. A autora nega e já disse em diversas entrevistas que não escreve sobre si mesma, mas as coincidências do texto com a vida real falam por si mesmas e fica bastante difícil acreditar nisso.
O tom de desespero no início do livro vai se transformando aos poucos em esperança. Rooney usa do amor como artifício de redenção sem ultrapassar a linha tênue que poderia transformar a história em um clichê de mau gosto. Isso não é nada fácil e é mais uma prova de sua grande habilidade como escritora.
Para concluir, mais uma vez sua escrita impressiona por ser clara, quase econômica e mesmo assim cativante. O campo das pequenas ironias e críticas sociais é onde ela se supera. Cada vez mais ela deixa para trás o rótulo de "voz dos millenials" e se consagra como um dos grandes nomes da literatura atual.
ai, Sally ❤ não consigo compreender quem odeia. pra mim, ela deveria ser unânime. amei a resenha, amiga!
que delicia relembrar essa leitura que amei com suas palavras tão certeira, Sah! adorooooo Sally e a forma como ela representa os dilemas da vida adulta <3