(Diário de Leitura) Um bom dia para nascer e Otto Lara Resende
“Perguntar se você é a favor do neonazismo é assim como indagar se vê com simpatia o câncer de uma pessoa amada. Tipo da conversa que fica abaixo da cota zero. Está no rol do que não precisa ser dito"
Quando foi que a gente se esqueceu do Otto Lara Resende? Quando foi que eu parei de procurar suas crônicas para dar risada numa tarde preguiçosa de sábado?
Como o próprio autor mineiro alertava, existe um “monstro da indiferença” que vai nos pegando quando paramos de reparar no “espetáculo do mundo”.
Talvez você se lembre dele como nome de peça de Nelson Rodrigues, que por provocação batizou um de seus trabalhos mais famosos como “Otto Lara Rezende ou Bonitinha mas Ordinária”. Ou talvez tenha topado com uma de suas famosas crônicas por aí.
Dia desses vi por acaso “Um Bom Dia para Nascer” na estante e me lembrei da genialidade dos textos do escritor e jornalista mineiro. Não se fala mais muito dele, que foi um dos grandes nomes da crônica brasileira. Não se fala mais também de seus companheiros de ofício, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e por aí vai. Acho que saíram de moda.
É verdade que ele veio de uma geração démodé de jornalismo muito masculina, hétero e branca. E sabemos que quem não fazia parte desse clubinho raramente tinha sua voz ouvida. Mas também é verdade o talento imenso de Otto, que foi um gênio da crônica, um gênero literário tão nosso.
É sempre complicado indicar escritores de outras gerações. Não li sua obra completa e não boto a mão no fogo de que não exista alguma opinião que não tenha envelhecido bem nas suas cinco décadas no jornalismo - que se encerraram com sua morte em 1992. Mas do que conheço, me marcaram suas tiradas geniais e o seu jeito de escrever da vida como a tragicomédia que ela é, com humor e uma pitada de angústia.
“Perguntar se você é a favor do neonazismo é assim como indagar se vê com simpatia o câncer de uma pessoa amada. Tipo da conversa que fica abaixo da cota zero. Está no rol do que não precisa ser dito. O açúcar é doce. A água é um precioso líquido”, disse uma vez, defendendo o óbvio.
Para o amigo Nelson Rodrigues, “a grande obra de Otto Lara Resende é a conversa. Deviam pôr um taquígrafo atrás dele e vender as suas anotações em uma loja de frases”.
Apesar de Otto não estar mais por aqui, suas crônicas continuam entre nós. Sorte a nossa.
Sarah, não conhecia.
Fernando Sabino e Clarice Lispector. Tem livros, se não me engano 2, com cartas que eles trocavam.
Eu não conhecia 🫣