Literalmente... três livros sobre a paixão
Ah, a paixão. Um sentimento que nos tira todo o juízo tenhamos 15 ou 95 anos. Uma das características mais únicas do ser humano. Não por acaso os gregos achavam que esse estado era um tipo de loucura
Ah, a paixão. Um sentimento que nos tira todo o juízo tenhamos 15 ou 95 anos. Uma das características mais únicas do ser humano. Não por acaso os gregos acreditavam que esse estado de espírito era um tipo de loucura.
Acontece que, apesar de ser um sentimento tão universal, raramente o vi retratado de maneira fiel na literatura. A tendência é cair em clichês, sejam eles demasiadamente sentimentalistas, ou, no polo oposto, desprovidos de emoção.
Existem, no entanto, pelo menos três livros que, como apontam dados do DataSarah, mostram a paixão exatamente como ela é, em todo seu desespero, desvario e falta de noção.
A lista segue abaixo, espero que gostem - e caso lembrem de outras obras que se encaixam nessa categoria, por favor não esqueçam de contar nos comentários.
-“Me Chame pelo seu Nome“, de André Aciman
Num cenário paradisíaco, o norte da Itália de meados dos anos 1980, o jovem Elio deixa a indiferença típica dos adolescentes de lado para cair de cabeça numa paixão avassaladora. O alvo de seu afeto é o inteligente - e lindíssimo - Oliver, aluno de seu pai. Nasce um romance de verão dos mais bonitos, tão rápido quanto avassalador.
As palavras do autor, André Aciman, me levaram de volta para minha própria adolescência, quando tudo era uma questão de vida ou morte e as paixões pareciam fatais. Como o próprio pai de Elio comenta em uma das mais belas passagens do livro, com a idade vamos nos tornando cínicos e perdendo essa habilidade de sentir tão profundamente. É realmente uma pena.
Observação: Não poderia falar do livro sem também mencionar o filme baseado nele. É um raro caso em que as duas obras são igualmente deslumbrantes - e contém diferenças mínimas entre uma e outra, algo incomum quando livros são adaptados para o cinema.
Citação
“Eu queria que ele agisse? Ou eu preferia uma vida de desejo não realizado desde que seguíssemos com esse joguinho de pingue-e-pongue: não saber, saber, não saber, saber? Fique quieto, não diga nada, e se não puder dizer "sim", não diga "não", diga "depois". É por isso que as pessoas dizem "talvez" quando querem dizer "sim", mas esperam que você pense que é "não" quando o que realmente querem dizer é. Por favor, pergunte de novo, e depois mais uma vez?”
-”O Quarto de Giovanni”, de James Baldiwn
O livro - que traz traços autobiográficos - narra a história de David, um norte-americano em exílio na Paris do final dos anos 1950. Aos poucos descobrimos que apesar de estar noivo de uma mulher, ele trava uma luta incessante contra sua bissexualidade, algo até então muito condenado pela sociedade em que vivia. Esse equilíbrio tão frágil começa a ruir quando David conhece o sedutor italiano Giovanni.
Pouquíssimas vezes na minha vida eu vi a paixão sendo descrita com tanta veracidade e clareza, e até mesmo violência, como nesse livro. Não era para menos, afinal James Baldwin tem uma habilidade ímpar com a escrita, sendo um dos grandes nomes da literatura norte-americana. (Para nossa sorte, ele vem sendo redescoberto no Brasil nos últimos anos).
Você quase sente no próprio corpo o frio na barriga dos personagens antes do primeiro beijo. Após essa leitura, nunca mais encontrei outro enredo do tipo “will they, won´t they“ escrito com tamanha maestria.
Citação
“Eu só queria”, disse eu, por fim, ‘que você acreditasse em mim quando digo que, se eu estava mentindo, não estava mentindo para você.’(…) ‘O que eu quero dizer’, expliquei, ‘é que eu estava mentindo pra mim mesmo’.”
- ”Paixão Simples”, de Annie Ernaux
Neste livro a ganhadora do Nobel de Literatura mais uma vez prova que é gente como a gente. A francesa perde o metrô, deixa a cinza do cigarro queimar o tapete, entre outras trapalhadas, pois não consegue parar de pensar em A., seu amante casado.
É um caso sem futuro, ela sabe disso, e sabe também o quanto esse sentimento é raro, então aproveita cada pedacinho dele, deixando-se levar sem culpas. Como sempre, quem ganha é o leitor, que tem em mãos mais um dos deliciosos relatos da mestre da autoficção.
Observação: O livro também ganhou uma adaptação para as telas. “Pura Paixão“ está atualmente disponível na Netflix.
Citação
“Estava sempre calculando, ‘há duas semanas, cinco semanas, ele foi embora’, e ‘no ano passado, nessa data, eu estava aqui, fazendo isso e aquilo’” […]. Pensava que era muito estreito o limiar entre essa reconstituição e uma alucinação, entre a memória e a loucura”.
Amei amei amei o formato novo! Louca para ler o novo da Ernaux ❤️
Adorei as indicações! E vou deixar uma sugestão aqui: Segredos, do Starnone <3