Falar que um livro da Bernardine Evaristo é extraordinário é uma redundância que quem já leu a ganhadora do Booker Prize sabe muito bem.
Cada vez que tenho uma de suas publicações nas mãos volto a me assombrar com a qualidade de sua escrita e a capacidade da autora de criar personagens tão profundos que fazem o leitor devorar suas páginas.
Não teve um de seus livros que eu não tenha lido num ritmo frenético, febril, apesar de ser avessa a leituras apressadas, sendo defensora fervorosa da leitura atenta.
Em mais uma experiência de arrebatamento literário, dessa vez Bernardine nos traz em “Sr. Loverman“ a história de Barry, um macho alfa (com o perdão da expressão) que teria uma vida dos sonhos não fosse um pequeno detalhe, ele é gay e esconde da família um caso de mais de cinco décadas com o melhor amigo, Morris.
Com a consciência da finitude de sua vida, ele decide mandar tudo às favas e assumir esse amor. Mas é claro que isso não será tão fácil como parece, e o maior empecilho são suas próprias barreiras psicológicas. Não é fácil sair da zona do conforto.
Se essa sinopse é cativante por si só, uma surpresa muito positiva acontece quando leitor se esbarra com a profundidade que Bernardine dá a todos os personagens cujas histórias esbarram em Barry.
Em mais uma prova do talento imenso da autora, vemos uma narrativa que não tem mocinhos ou bandidos. Talvez o único vilão, que é uma vítima da sociedade em que vive, seja o próprio protagonista.
Existe uma técnica de patchwork chamada “Log Cabin”, onde vão sendo juntados pequenos retalhos de tecido até que se forma uma colcha imensa, de beleza ímpar, única. É assim que me sinto quando leio Bernardine. Com pequenos detalhes, fragmentos de histórias, fazendo revelações aos poucos, criando uma narrativa multifacetada, ela forma uma obra de arte única, imensa.
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Coloquei esse na mihna lista !
em 2022 li garota,mulher , outras e foi uma coisa avassaladora .
Li recentemente. Foi meu primeiro contato com a escrita da autora e gostei muito de como o texto fluiu e os personagens foram bem construídos, com tantas complexidades, tantas camadas, que vão se revelando aos poucos, como o descascar de uma cebola. Até porque quanto mais eles se descascam, mais a gente chora. Rs.