Pegando o gancho da data em que celebramos o Dia das Mães aqui no Brasil, separei três dicas de leituras que acredito que melhor arranham no tema.
Uso o verbo “arranhar“ pois acredito que cada maternidade é um universo próprio, feito, entre tantas outras coisas, de solidão, loucura e amor incondicional… e quase impossível de ser colocado em palavras.
Gerar um outro ser humano dentro das próprias entranhas é algo tão fascinante quanto assustador, perceber seu mundo virando do avesso não é para os fracos. Criar uma criança numa sociedade desenhada para nos ignorar é heroísmo puro.
E por isso esses livros me tocaram tanto, por se distanciarem de narrativas que idealizam ou demonizam esse lugar. Ser mãe não é a melhor ou a pior coisa do mundo, é simplesmente desestabilizador e diferente de tudo.
Parabéns para todas nós, mães, nesse dia. Que essas leituras possam te ajudar - assim como me ajudaram - a nos sentirmos menos sós.
(Ps. Eu dedico essa edição para minhas amigas, mães e escritoras
- “Pequenas Resistências”, de Rivka Galchen
O livro de Galchen, além de ser extremamente bem escrito, não cai na armadilha de lamentar as agruras da maternidade ou mesmo de superestimá-la. A autora relata as novidades de sua rotina como se protagonizasse em um documentário do Discovery Channel. Suas observações são sinceras e sucintas.
De todas as observações de Rivka, que trazem um frescor típico daquele tipo de indagação “como não pensei nisso antes“, a que mais me chamou a atenção foi a descrição da chegada da filha em sua vida como se um animal selvagem se mudasse para sua casa em plena Nova York.
O nome da bebê nunca é revelado, sabemos apenas que é chamada pela mãe de Puma, por conta de sua beleza e potencial destruidor, e eu não consigo pensar em metáfora melhor para a maternidade do que essa.
Citação
“No final de agosto nasceu uma bebê, ou, como me pareceu, uma puma se mudou para o meu apartamento, uma força quase muda”
Leia a resenha completa aqui
- “Morra, Amor”, de Ariana Harwicz
O livro, que foi finalista do renomeado Man Booker Prize em 2018, é escrito em fluxo de consciência por uma mãe de um bebê de pouco mais de um ano.
Aparentemente passando por um quadro de depressão pós-parto, ela narra o lado visceral de gerar e cuidar de outro ser. Ela se debate a todo o tempo com o estranhamento de sua situação.
Morando num país estrangeiro, ela desenvolve uma relação de amor e ódio com esta terra, assim como com o marido e o filho - os ama e os despreza ao mesmo tempo. Não consegue viver com eles e nem longe deles.
Citação
“Pienso en ese animal monstruoso, en ese parásito que es un hijo, en eso de llevar tu corazón con el otro para siempre.”
Dica bônus:
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- “As Alegrias da Maternidade”, de Buchi Emecheta
O livro trata da maternidade de uma forma nada romantizada e os efeitos que isso, muitas vezes uma imposição da sociedade, pode ter na vida de uma mulher. Especialmente quando ela não conta com uma rede de apoio.
Emecheta foi citada pela também nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, autora do best-seller "Americanah", como uma de suas grandes influências. E essa indicação vale muito mais que a minha. Ainda assim registro por aqui que é um dos melhores livros que já li.
Citação
“Alguns pais, especialmente os que têm muitos filhos de diferentes esposas podem rejeitar um mau filho, um amo pode rejeitar um criado perverso, uma esposa pode chegar ao ponto de abandonar um mau marido, mas uma mãe nunca, nunca pode rejeitar seu filho. Se ele for condenado, ela será condenada ao lado dele.”
Veja mais sobre o livro aqui
amo As alegrias da maternidade ❤️❤️❤️
Mais três livros pra minha lista interminável de leituras